quinta-feira, 29 de junho de 2017

E é tão simples o Bolhão...


Afinal, nesta novela do Bolhão (fotos de Notícias ao Minuto e Livro Brunch) porque não restaurar apenas o edifício, manter todos os pavilhões, dignificando-os, devolvendo-os ao seu brilho inicial, retirando-lhe todos os elementos espúrios? Credo, para quê estropiá-lo com intervenções intrusivas, "marcações de território" by atelier, etc., etc.? Não inventem, por favor!
Fotos: Dinheiro Vivo e Livro Brunch

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Como estão tão longe disto (mas não deviam estar) os municípios do Porto e de Gaia!



A Câmara Municipal de Ovar acaba de aprovar o Regulamento de Apoio à Recuperação de Fachadas do Centro Histórico.
Segundo informação divulgada pelo próprio Município, com este regulamento prevê-se "um incentivo financeiro até ao limite máximo de 5000 euros, calculado com base na fatura (c/IVA) respeitante aos trabalhos efetivamente realizados, sendo que, até 1000 euros, será concedido um apoio financeiro de 100%; ao remanescente, acima de 1000 euros, o apoio financeiro será de 50%; e em situações excecionais e devidamente justificadas, aos imóveis com fachadas azulejadas de valor patrimonial muito relevante, poderá ser concedido um apoio financeiro até 100%, após análise crítica e devidamente fundamentada do ACRA – Atelier de Conservação e Restauro do Azulejo".

Vou repetir, para que fique bem claro: "em situações excecionais e devidamente justificadas, aos imóveis com fachadas azulejadas de valor patrimonial muito relevante, poderá ser concedido um apoio financeiro até 100%, após análise crítica e devidamente fundamentada do ACRA – Atelier de Conservação e Restauro do Azulejo".



Como estão tão longe disto os municípios do Porto, e, sobretudo, de Gaia - onde foram concebidos e executados quase todos os azulejos históricos que Ovar está a salvaguardar e a valorizar! 
Falta-nos quase tudo, a começar por um inventário exaustivo. 

Há que atalhar caminho, antes que seja tarde demais.
Uma proposta de trabalho foi já aqui apresentada:
http://cidadaniaprt.blogspot.pt/2017/06/programa-de-salvaguarda-do-azulejo.html

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Guilhermina Suggia nascida no Porto em 27 de Junho de 1885

Muito bem, muito bem!


«Câmara do Porto distingue e protege as primeiras 37 lojas históricas da cidade

A Câmara do Porto já identificou as primeiras 37 lojas históricas que passarão a estar protegidas no âmbito do programa "Porto de Tradição". As escolhas resultam de um trabalho técnico muito completo, no âmbito de um Grupo de Terreno, que as avaliou a partir de critérios estabelecidos e distinguiu. Estas lojas passam a estar protegidas ao abrigo por uma nova lei que prevê benefícios no âmbito da Lei das Rendas, evitando que os proprietários as possam despejar com maior facilidade.

A proposta da classificação destas lojas irá ser votada na próxima reunião de Executivo (dia 27 de junho), três dias após a entrada em vigor da lei que permite à Câmara do Porto enquadrar e ampliar as medidas de proteção do Porto tradicional.[...]

As lojas identificadas cujo reconhecimento será proposto à Câmara são as seguintes:

A Favorita do Bolhão
A Sementeira
Alcino Ourives
Arcádia
Armazém dos Linhos
Armazéns Cunha
Bazar Paris
Bernardino Francisco Guimarães
Café Guarany
Café Piolho
Casa Aleixo
Casa Alvão
Casa Coração de Jesus
Casa Crocodilo
Casa dos Forros
Casa Hortícola
Casa Januário
Drograria Louzada
Escovaria de Belomonte
Farmácia Lemos
Farmácia Vitália
Livraria Académica
Livraria Lello
LMR Lda - Fábrica das Velas
London Style
Machado Joalheiros
Majestic Café
Mármores E Granitos Felisberto
Marmorista Industrial
O Cafézeiro
Ourivesaria Coutinho
Ourivesaria Eduardo Carneiro
Ourivesaria Luís Ferreira
Padaria Ribeiro
Papelaria Modelo
Restaurante Regaleira
Vidraria Fonseca
»


In http://www.porto.pt/

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Os azulejos do Porto só têm valor quando a fachada vem abaixo?


Rua de S. João, Junho de 2017


Quem passa agora pela Rua de S. João, junto ao início da Rua do Infante, poderá achar estranho um edifício almadino ter azulejos românticos apenas numa faixa vertical correspondente a cerca de 20% do pano de fachada.
Este era um dos edifícios com azulejamento mais curioso no Porto: aparentemente, por estar tripartido no interior (pertencendo talvez a três proprietários diferentes), na viragem do século XIX para o século XX a fachada foi revestida com três padrões diferentes de azulejo, com cercaduras a realçar essa separação. Apesar disso, o cromatismo era semelhante, de modo que poucos reparavam na existência de três padrões diferentes.
Ora, dois desses padrões desapareceram por completo, com as obras que fizeram este ano no edifício.
Lembro que estamos dentro da zona classificada como Património da Humanidade e, mesmo que não estivéssemos, lembro também que a azulejaria de fachada é um activo patrimonial muito importante e identitário na cidade.

O Código Regulamentar do Município do Porto que vigora (no seu artigo B-1 / 4.º - Condicionamentos arqueológicos, patrimoniais e ambientais) até parece implicitamente reconhecer a importância dos azulejos, pois nele lê-se:

«1 - O Município pode impor condicionamentos ao alinhamento, à implantação, à volumetria ou ao aspeto exterior das edificações, assim como à percentagem de impermeabilização do solo ou à alteração do coberto vegetal, com fundamento na preservação ou promoção dos valores arqueológicos, patrimoniais e ambientais da área objeto de intervenção e da Cidade no seu conjunto.
2 - O Município pode impedir, com fundamento em condicionantes patrimoniais e ambientais devidamente justificadas, a demolição total ou parcial de qualquer edificação, bem como de espécies arbóreas ou arbustivas de inegável valor botânico e paisagístico para a cidade.
3 - (...)
4 - (...)
5 - Os materiais construtivos e decorativos com valor arquitetónico ou histórico – elementos cerâmicos de revestimento ou decoração, cantarias lavradas, elementos em ferro – existentes em edifícios a demolir devem ser inventariados e preservados, com vista à sua reutilização ou aquisição pelo Município.»

Porém, esta ressalva de inventariação e preservação aplica-se em caso de demolição. Como nem aqui, nem em outros locais da cidade onde os azulejos têm sido retirados, houve propriamente uma demolição, é caso para deduzir que este regulamento implicitamente só dá importância à azulejaria de fachada se o edifício desaparecer tal como existe. Se não desaparecer, então já aos azulejos se poderá dar um destino mais "casuístico".

E é também assim, graças a normas desajustadas, que se empobrece o Património da cidade.
Daí a importância de acções concretas, como foi já aqui proposto no fórum:
http://cidadaniaprt.blogspot.pt/2017/06/programa-de-salvaguarda-do-azulejo.html


sexta-feira, 9 de junho de 2017

Para o anedotário da gestão do centro histórico do Porto

Rua da Reboleira, Porto (foto de Francisco Queiroz, 2016)



O mobiliário urbano, atendendo à sua concepção, aos locais onde é colocado, e a outros factores, nem sempre serve os propósitos iniciais. Por vezes, torna-se redundante, inútil, ou mesmo um estorvo. Se pensarmos que, em geral, o mobiliário urbano não é concebido para colocação em zonas antigas das cidades e, muito menos, para posicionamento em vias sensíveis, de perfil medieval e com edifícios que ainda testemunham essa longínqua época, então os resultados podem ser mesmo aberrantes.
No dia em que vi isto na Rua da Reboleira, no Porto, rua essa em que raramente passam automóveis, e, quando passam, devido às características da rua, não raro têm de parar a meio e percorrê-la quase à mesma velocidade dos peões - fiquei atónito. O fluorescente, para se ver ao longe, como se de uma longa recta de via rápida se tratasse, embora aqui numa curva de rua...; os três dígitos, como que a prever que algum veículo, nesta rua, possa vir a ultrapassar os 99km por hora; o encosto a uma das pouquíssimas casas-torre de tipologia medieval que subsistiram no Porto, reclamando protagonismo para a questão da velocidade numa rua que, há muitos anos, é essencialmente pedonal...
Este exemplo é a anedota do que não se deve fazer nunca. E se me disserem que as intenções até foram boas, respondo já que haveria muitas outras formas possíveis de dissuadir a velocidade; esta forma é, seguramente, imprópria para aquele local. Aliás, e não havendo outra maneira de chegar a este ponto da rua com um veículo automóvel sem ser pela sua entrada, a colocar-se sinalização de velocidade seria precisamente à entrada da rua, e não aqui. Mas se nos lembrarmos que a entrada da rua é também um espaço essencialmente pedonal, então este caso assume contornos ainda mais bizarros.

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Azulejos do Porto - é preciso que se saiba

Fotos de Francisco Queiroz, em 2008, e de Ana Paula Bandeira Morais, em 2017


A situação dos azulejos do Porto é dramática. Além de tudo o que já se referiu há dias aqui http://cidadaniaprt.blogspot.pt/2017/06/programa-de-salvaguarda-do-azulejo.html
há que juntar ainda os casos de intervenções que, apesar das boas intenções, são feitas de modo incorrecto e, às vezes, leviano e irresponsável.

Exemplo paradigmático é a fachada da icónica "Pérola do Bolhão".

As fotografias do "antes" e do "depois" mostram bem como uma figura feminina correctamente pintada passou a ser grotesca.
Não houve respeito pela obra artística, nem pelo seu carácter Arte Nova: várias cores foram alteradas; os cabelos mais soltos desapareceram e passou a haver uma massa uniforme escura, qual cabeleira; os lábios foram encurtados e puxados para cima; o nariz ficou ambíguo; a sombra abaixo das sobrancelhas foi realçada e desligada dos olhos; a íris foi arredondada, tornada mais pequena e menos puxada para dentro da pálpebra, alterando a expressão plácida do rosto originalmente pintado; parte do cabelo sobre a testa desapareceu, a mão passou a ser disforme, como se tivesse membranas interdigitais; a linha do busto deixou de ser coberta pela das vestes; enfim, basta comparar atentamente para ver muitos outros aspectos que fizeram desta figura uma caricatura infeliz daquela que foi pintada inicialmente.

Dir-se-á que isto não é verdadeiramente um restauro. Seguramente que não. Mas, será que uma obra azulejar desta qualidade não mereceria uma intervenção qualificada?
É preciso que se saiba: mesmo quando se intervém sobre os azulejos da cidade no sentido de tentar preservá-los, ainda há muita asneira a ser feita.
Pergunta final: a intervenção realizada neste painel da Pérola do Bolhão será, ao menos, reversível?

terça-feira, 6 de junho de 2017

Programa de salvaguarda do azulejo - Apêlo aos PCM Porto e Gaia



Ex.mo. Sr. Presidente da Câmara Municipal do Porto
Dr. Rui Moreira
Ex.mo Sr. Presidente da Câmara Municipal de Gaia
Doutor Eduardo Vítor Rodrigues

CC: AMP, AMG, e Media

Decorrido um mês sobre as comemorações do 1º Dia Nacional do Azulejo e 14 anos (!) sobre o abaixo-assinado/manifesto (em anexo) pela preservação da Fábrica de Cerâmica das Devesas, cujo processo de classificação remonta a meados da década de 1980, com os resultados infrutíferos, e dramáticos, por demais conhecidos;
Verificando-se que, na realidade, no Porto e em Gaia, quase tudo continua por fazer no que toca à inventariação, estudo, monitorização, salvaguarda, valorização e divulgação do património azulejar e do património industrial associado, pois só algumas pequenas partes do território dos dois municípios foram objecto de inventariação sumária dos azulejos existentes, mas sem contemplar os demais artefactos cerâmicos complementares e sem qualquer tipo de estudo associado, estratégia de salvaguarda, ou sequer uma monitorização - sendo que muito do que foi inventariado já não existe e, nos últimos anos, diversas antigas fábricas de cerâmica foram até arrasadas, parcial (Devesas, Carvalhinho - instalações de Gaia), ou totalmente (Cavaco, Monte Cavaco, Fojo), estando todas as poucas que ainda restam ao abandono ou em ruína acelerada (Devesas, Santo António do Vale da Piedade, Senhor d'Além, Carvalhinho - instalações do Porto, Massarelos - fornos junto à Ponte Maria Pia);
Verificando-se que, no caso do Município do Porto, o banco de materiais, ainda que sendo um projecto meritório, não resolve minimamente o problema, não só porque a azulejaria só faz verdadeiramente sentido no seu suporte arquitectónico, mas também por não existir uma estratégia pró-activa municipal de defesa do seu património azulejar, nomeadamente do de fachada, que é aquele mais visível;
Sendo evidente que a azulejaria de fachada é uma das marcas distintivas de "Portugalidade" mais fortes e mais reconhecidas a nível internacional, reunindo indelevelmente os municípios do Porto e de Gaia - aquele por ter sido a principal montra e pólo exportador desse tipo de azulejaria, que marcou uma época e que se destacou face à tradição da azulejaria lisboeta; e este por ter sido o principal núcleo de produção de azulejos e de outros ornatos cerâmicos para edifícios, alguns dos quais são já hoje muito raros;
Constatando-se que - em grande medida por inacção - a situação da típica azulejaria do Porto/Gaia é grave, como se mostra pelos exemplos em anexo, que apenas ilustram uma diminuta parte dos problemas existentes: a Capela das Almas; a Igreja dos Congregados; a Igreja da Trindade - recentemente objecto de abertura de procedimento de classificação como CIP; a estátua de "Portucale" em terracota de modelo de Teixeira Lopes Pai que até há pouco tempo ainda existia em Miragaia; o painel do "Pirotechnico" (único do género no país) que existia em Coimbrões; etc., etc.;
E, por último, sendo claro que o empobrecimento das cidades do Porto e Gaia em termos de azulejaria e de outros ornatos cerâmicos complementares - quer por furto, quer por incúria, quer por retirada aquando de obras, quer por substituição por réplicas (ainda por cima de má qualidade), quando os originais existem e podem ser recuperados - é uma realidade que importa combater e estancar;
Somos a enviar a VV. Ex.as um apelo para que abracem a causa do Azulejo do Porto/Gaia como "cidades de azulejo", como uma marca própria, factor de desenvolvimento cultural, social e turístico, e, nesse sentido, façam aprovar em sede de executivo, preferivelmente em articulação intermunicipal, um programa de investigação e salvaguarda do Azulejo do Porto/Gaia, o qual contemple:
1. A inventariação exaustiva e bem documentada (fotográfica, histórica, estado de conservação, etc.), em sede de Revisão do Plano Director Municipal, da azulejaria de fachada e também de interiores, em edifícios públicos e privados, no espaço público ou privado.
2. A alteração da regulamentação camarária relativamente ao licenciamento urbanístico, através de um conjunto de normas de salvaguarda para os imóveis objecto de projecto de alteração, com vista à consolidação, restauro e/ou recolocação de azulejos, com técnicas e argamassas adequadas, e, apenas quando estritamente necessário, definindo os moldes da sua eventual remoção para depósito camarário.
3. O reforço da participação do Porto e de Gaia no projecto "S.O.S. Azulejo".
4. O reforço da colaboração com os centros de investigação universitários onde a azulejaria é tema de pesquisa, assim como com a Direcção Regional de Cultura-Norte, e ainda com associações idóneas que se mostrem activamente interessadas na defesa deste Património comum que é o Azulejo.
5. A atribuição da classificação bem/monumento/conjunto de Interesse Municipal às fachadas, painéis, e outros exemplos de ornamentação cerâmica complementar que assim o mereçam, a partir dos resultados da inventariação referida no ponto 1.
Juntamos ainda esboço-resumo do que poderá ser esse plano de salvaguarda do Azulejo de Porto e Gaia.
Ficamos à disposição de VV. Ex.as;
Melhores cumprimentos

David Afonso, Francisco Queiroz, Francisco Sousa Rio, Nuno Quental, Virgílio Marques
​Pelo Fórum Cidadania Prt
...


Foto do antes e do depois - painel do "Pirotechnico"


Igreja da Trindade


Igreja dos Congregados


Largo dos Loios - réplicas em edifício intervencionado no âmbito do projecto dito "das Cardosas"


Miragaia - estátua do "Portucale" em 2017 e como estava em 2016


Rua da Bainharia: réplicas em lotes contíguos


Rua dos Caldeireiros: réplicas truncam painel publicitário


Rua Tomás Gonzaga: um dos poucos edifícios na rua onde ainda há azulejos originais (os pouquíssimos que sobraram nesta fachada)



Estado actual da Capela das Almas (fotos de Fernando Pacheco publicadas no Facebook)
























Conferência sobre Le Corbusier


segunda-feira, 5 de junho de 2017

A propósito do Teatro de S. João

Entre os belos serviços prestados á cidade do Porto pelo seu antigo corregedor, Francisco de Almada e Mendonça, tem distincto logar a fundação do teatro de S. João. Foi elle quem promoveu o construir-se uma sociedade de capitalistas para se edificar o teatro. Deu-se-lhe aquelle nome em honra do principe D. João que regia o reino no impedimento da Rainha D. Maria I. Foi encarregado do risco o italiano Vicente Manzoneschi, que fôra chamado a Lisboa, , por Sebastião da Cruz Sobral para pintar o scenario do teatro da Rua dos Condes. Parece que era bom scenographo; mas com certeza máu archirtecto. O que havia de bom no teatro de S. João fôra copiado do de S. Carlos, de Lisboa. A fachada era péssima. Faltava-lhe salão d’entrada . A ornamentação da sala tinha sido melhorada, mas estava ainda muito longe de ser boa. O primeiro panno de bôcca do teatro de S. João foi pintado pelo celebre Domingos Antonio de Sequeira. O teatro foi inaugurado a 13 de Maio de 1798 com a comedia A Vivandeira. Apezar de todos os defeitos, o teatro de S. João era ainda o melhor do Porto. Todos os anos, durante tres mezes era explorado por companhias lyricas. Na noite de 11 para 12 de Abril de 1908 um pavoroso incendio, de que se não sabe a causa, destruiu em poucas horas o teatro de S. João. Pensa-se em reconstruil-o, ou edifical-o n’outro local. Por ocasião do incendio, n’um jornal do Porto, o ilustre escriptor Firmino Pereira, abalisado critico e grande conhecedor de assumptos theatraes publicou um excelente artigo, de que extrahimos com sua auctorisação os seguintes trechos:
“Com a construção do teatro de São Carlos (1703) e a renovação do velho e encardido barracão do Salitre, o gosto pelas representações scenicas propagou-se ao Porto. Em Lisboa, as seducções da Zamperini, que tanta asneira provocaram, deram logar á construção do teatro de São Carlos. No Porto, não tendo brilhado astro dde  tão intensa luz, foi bastante o esforço de um homem – o corregedor Almada e Mendonça. Em 1794, tendo decidido construir um teatro, segundo os modelos então adoptados, para o que escolheu um terreno pertencente á antiga Cortina do Muro da Cidade, entre a viella dos Entrevados e a viella do Captivo, submeteu ao governo a respectiva planta, que o ministro José de Seabra, prontamente devolveu aprovada (aviso régio de 9 de outubro de 1794), isentando o terreno de qualquer fôro ou outra contribuição que se pretenda impor. Almada tratou em seguida de organizar uma sociedade por meio de acções, dirigindo uma circular aos capitalistas e negociantes da cidade, na qual reclamava a sua cooperação para a edificação dessa espécie de escola, mais útil para a correcção dos vícios e desordens pela vivacidade com que na Tragedia se vêem  punidos os crimes dos superiores, que julgaram talvez assim uns e outros a corrigirem-se a si próprios…” (Circular  dirigida aos cidadãos portuenses).
O terreno que era particular custou, com a expropriação de cinco casas, réis 6:276$320. Com o capital subscripto principiaram as obras em Abril de 1796 , mas chegado que foi o dezembro de 1797, apenas se havia liquidado a somma de réis 31:300$000, equivalente a 313 acções. Fez-se então nova convocação (29 de dezembro), que produziu 22:650$000, e com esta somma conclui-se o edifício, que foi inaugurado a 13 de maio de 1798, dia dos anos do principe D. João (depois D. João VI), com a comedia A Vivandeira.. A administração do teatro ficou a cargo da correição e provedoria da cidade até 1805 , em que os accionistas nomearam uma administração, que se conservou até 1825, dependente, porem, da autoridade que exercia a policia da cidade. Neste anno, sendo governador das justiças o Dr. Felippe Ferreira de Araujo e Castro, foi o teatro entregue á direcção puramente particular dos accionistas. Foi a 8 de outubro que a assembleia geral, convocada por ordem  da autoridade nomeou os primeiros gerentes, que foram Antonio Maya, José Joaquim Vaz de Guimarães, Manoel Joaquim de Sousa, José Ribeiro Braga e Antonio Joaquim da Ciosta Carvalho. O teatro foi construído segundo o risco do architecto italiano Vicente Mansoneschi, architecto e pintor de Roma, que se achava em Lisboa ao serviço do teatro de S. Carlos. Diz um chronista do tempo que esse artista examinou o sitio e fez para este um modelo de pão, o qual mereceu a geral aprovação”. Há um detalhe curioso na construção: a cornija que ficou em madeira (páo Brazil), assim se conservou sempre. Muita gente duvidava que tal sucedesse. Com o incendio que acabava de devorar o edifício, á evidencia se reconheceu que, ficando a cornija por completar, não se pensou mais em concluil-a, apesar das sucessivas reparações que o teatro sofreu desde que foi aberto ao publico. As decorações internas foram executadas por artistas uns do Porto e outros contratados em Lisboa, nesse tempo abarrotado de pintores e scenographos, muitos dos quaes, contratados já no reinado de D. José, por cá se deixaram ficar, creando família. O panno de bocca, devido ao pincel de Sequeira, foi em 1821 substituido por outro, executado pelo pintor hespanhol João Rodrigues. Era uma tela muito complicada, representando Apollo, conduzindo o Porto á assembleia das Musas. Nella se viam o Douro, Clio, Euterpe, Thalia, Melpomene, Therpsichore, Calliope, Urania, a Pintura, a Esculptura, etc. No teatro de S. João, antes da opera lyrica, funcionavam companhias de declamação.
Desde a sua abertura, nunca fechou, nem mesmo no tempo do cerco. Desde 1827 a 1835, as receitas foram de 10:290$310 e as despezas  de 9:505$970. Isto prova que, durante a quadra angustiosa do terror absolutista, a população não deixou de frequentar o teatro, onde a companhia do Grillo Coxo representava o reportório da época, Pedro Grande ou os Falsos mendigos, Os Sete Infantes de Lara, O Rachador escossez, etc. Em 1820, foram celebres as recitas que lá se deram com os dramas alegóricos, celebrando a victoria da revolução liberal. Em outubro d’aquelle anno representou-se a composição do árcade Bingre, A Revolução de 24 de Agosto de 1820, feita no Porto. Representaram-se também as farças, os entremezes, as burletas do velho reportório, que o empresário e ensaiador João Manuel punha em scena o melhor que podia. Mas, o teatro, ahi por 1850 era tão mau, que um critico escreveu que seria mais decoroso para a segunda cidade do reino não ter teatro, do que represental-o  de tal jaez. (O Theatronº 1, de 19 de maio de 1850). Todos os géneros foram ali exhibidos, desde o trágico ao picaro.  No palco, hoje destruído, do lindo teatro do largo da Batalha, onde representaram a Emília das Neves, a Ristori, o Salvini, o Mayeroni, exhibiram-se uns fantoches, e trabalhou a funambula Zee. Mas, o período brilhante, pitoresco, anecdotico, movimentado, cuja historia esta por fazer, é o da época lyrica, com as suas cantoras, os seus apaixonados, os seus romances, as suas turbulências, que tanto deram que falar pelo seu escândalo e pelo seu ruido, desde as ameaças do Marquez de Niza, defendendo a cantora Jeanne Olivier, pateada pelo publico, ate aos tumultos provocados pelo Eurico, passando pelos episódios galantes dos adoradores da Giordano e da Ponti, e pelos enthusiasmos da plateia nos bons tempos das Marchizios, da Rossi  Caccia, da Valpini, da Dabedelhe, da Ortolani, da Passerini, da Ferni, da Gargano, de tantas outras, que profundamente impressionaram e alvoroçaram o cérebro e o coração dos portuenses. D’esses tempos joviaes e ardentes restava, como recordação saudosa, a linda sala onde tantos olhos choraram e tantos corações padeceram… Hohe, nem isso já resta. Uma chama que se alarga, e n’um instante tudo finda na completa ruina. O lindo edifício, que há mais de um seculo constituía o ponto de reunião da sociedade escolhida, tão rijo e como de aço na sua solida architectura, dentro de duas horas era um montão de destroços.  Houve quem ao contemplal-os, chorasse. É que a essa casa ligam-se tantas tradições e tantas lembranças, que não é sem uma dor d’alma, uma grande, aguda e torturante dôr, que se vêem desaparecer, na estupidez de uma catástrofe, as coisas que nos recordam a mocidade, as ilusões, os sonhos azues, as paixões, as angustias, os risos da quadra jovial e romântica da vida, que passou para nunca mais voltar. O teatro de S. João deixa imensas saudades. É como um  velho conhecimento, um amigo dedicado de outros tempos, que a gente visse morrer. Com elle finda também parte da nossa existencia, a mais bella, a mais suave, a mais linda, a idade em que se não pensa, porque só se vive na fantasia e no sonho. Faz tanta pena vel-o desaparecer! Nada se sabe ainda acerca do modo como se originou o incendio. Em a noite de sexta-feira, 10, tinha havido ali uma soirée literário-musical em beneficio de uma associação académica, e no domingo devia realizar-se , no salão nobre do teatro, um concerto dos discípulos e discípulas do maestro Roncagli. Já para la havia sido transportado um magnifico pianno de cauda Bechstein, do valor de 640$000 réis, cedido pela casa Mello Abreu e que foi inteiramente damnificado pelo fogo. Na tarde de sabbado o fiscal estivera no teatro, nada encontrando de anormal. O que é certo é que o fogo irrompia ahi pela meia noite. Há duas hypotheses – ou pota de cigarro deixada por alguém ao  abandono no palco, ou contacto entre fios electricos, que não tivessem sido desligados depois do espectaculo dos estudantes. Será difícil apurar-se; no entanto a policia judiciaria procede a averiguações. O edifício do teatro, mobiliário e archivo estavam seguros em  55 contos, divididos pelas seguintes companhias; na Segurança , 20 contos; 20, na Confiança Portuense; 10, na Tagus e 5 na Urbana Portuense. O scenario, mobiliário e partituras, pertencentes ao empresário sr. Luiz Faria Guimarães, estavam seguros por 6 contos, na Garantia.
No emtanto, o prejuízo sofrido por este deve ser mais. O sr. Luiz Faria, que terminava este anno  o seu arrendamento do teatro, havia alugado em Italia, na recente temporada lyrica, o scenario para a opera Madame Butterfly, de Puccini, que se dispunha a enviar para a Italia, quando o incendio sobreveio e o devorou. O proprietário do bufete do teatro era o sr. José Joaquim Gomes Duarte, da Confeitaria Bragantina, da rua de Santa Catharina. Este nada tinha do que alli estava  no seguro. O teatro de S. João pertencia há alguns anos a uma parceria composta pelos Srs. João Baptista de Lima Junior, Armando Vieira de Castro, Thomaz Martins Ramos Guimarães,  Dr. Leopoldo Mourão e José Ferreira Guimarães, os quaes já se reuniram, resolvendo não reedificar o teatro, mas auxiliar qualquer empresa que para esse fim se constitua, entrando eles com os valores que lhes pertencem.
(Diccionario do Theatro Portuguez, de Sousa Bastos – Lisboa-1908)





Obras no Dispensário do Porto para Crianças Pobres - Protesto destruição de património


Exmo. Sr. Director-Regional de Cultura
Doutor António Torres da Ponte,
Exmo. Senhor Dr. Pimenta Marinho
Presidente do C.D. da ARS Norte


CC. DGPC, Min.Cultura, Min. Saúde, PCM Porto, AM Porto, Comissão UNESCO e media

No seguimento das obras de reabilitação e adaptação a Centro de Saúde que decorrem no antigo Dispensário do Porto para Crianças Pobres, sito na Rua Saraiva de Carvalho, e mandado construir pela Rainha D. Amélia em 1895, chegou ao nosso conhecimento que o projecto em curso implicará a remoção dos elementos que encimam o respectivo frontão, na circunstância um elemento escultórico em terracota ("Caridade"), executado pela Fábrica das Devesas, com base em modelo de José Joaquim Teixeira Lopes, e dois jarrões laterais.

Tratando-se de elementos decorativos de realce e inquestionáveis, desde a sua fundação até hoje, enquanto valorização do conjunto arquitectónico respectivo - como o atestam as fotografias em anexo -, somos a solicitar a V. Exas. confirmação de tal facto e apresentar o nosso protesto na eventualidade de tal se verificar, e pedir esclarecimentos sobre como é possível ter sido aprovado tal remoção.

A confirmar-se essa intenção tratar-se-á de uma significativa amputação da história do edifício, e de uma acção contrária ao normativo decorrente da classificação do Porto como Património Classificado pela UNESCO, uma vez que o edifício se localiza em plena área classificada, com as consequências que, certamente, daí advirão.

Melhores cumprimentos


Alexandre Gamelas, César Santos Silva, Francisco Queiroz, José Alberto Rio Fernandes, Virgílio Marques
Pelo Fórum Cidadania PRT

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Cemitérios históricos do Porto - museus da cidade que cada vez menos estranham



Foi em 1999 que começaram a ser feitas, no Porto, as primeiras visitas guiadas aos seus principais cemitérios históricos. Primeiramente confinadas ao Cemitério da Lapa, quatro anos depois já se realizavam nos dois cemitérios municipais de Agramonte e Prado do Repouso. Ao início, eram visitas esporádicas. Porém, a Câmara do Porto, através do seu pelouro do Ambiente, há muito que decidiu transformar as visitas em verdadeiros ciclos culturais, com cadência anual, neles incluindo cemitérios que não são municipais, como o da Lapa ou o Britânico. O ciclo cultural deste ano é já o 12º e apresenta um programa diversificado, que inclui iniciativas inéditas no país. A própria Irmandade da Lapa iniciou o ano passado o seu próprio ciclo de visitas ao cemitério privativo. Dir-se-ia que a cidade está no bom caminho, ao nível do seu património cemiterial: os cemitérios são museus da cidade que cada vez menos estranham; os cemitérios municipais, em concreto, há anos que estão listados como membros da Rota Europeia de Cemitérios da ASCE - Association of Significant Cemeteries in Europe; o Cemitério da Lapa também já se encontra classificado, desde 2013, como Monumento de Interesse Público.
Porém, ainda há muito por fazer. Em alguns destes cemitérios, as perdas patrimoniais foram severas nas últimas décadas. Faltam até coisas aparentemente tão simples, como assinalar o Cemitério da Lapa do mesmo modo que os cemitérios municipais estão assinalados: com o mesmo tipo de placa que se vê à entrada de outros monumentos da cidade.

Reabilitação do antigo matadouro industrial - protesto e chamada de atenção à CMP

Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal do Porto Dr. Rui Moreira CC. AMP e media Tomamos conhecimento de imagens virtuais dand...