Dr. Rui Moreira
Como é do conhecimento de V. Exa., o Núcleo Histórico de Nevogilde, nomeadamente o velho Largo de Nevogilde, assume particular relevância no panorama dos antigos lugares ainda existentes naquilo que é hoje o território da cidade do Porto, pela sua autenticidade e identidade muito próprias, presentes, em especial numa série de casas, dispostas de forma particular em volta da Igreja de São Miguel, datada de 1734.
Cremos que a salvaguarda deste conjunto tão precioso deve ser uma prioridade de todos quantos se preocupam com o estado do nosso património.
Uma casa em especial – o n.º 21 do Largo de Nevogilde – possui particular relevância histórica, por se tratar da antiga residência paroquial e também porque possui as características arquitetónicas das Casas da Maia, um tipo de habitação específica da faixa que se estende ao norte do Porto, desde a beira-mar até um pouco a nascente da estrada Porto-Braga, segundo os trabalhos de Ernesto Veiga de Oliveira e Fernando Galhano*.
Esta típica casa de lavrador de S Miguel de Nevogilde dos séculos XVII e XVIII aparece mesmo referenciada num documento destes autores: https://books.
Verificámos, no entanto que a casa aqui em questão, não só não se encontra abrangida pela mancha própria de proteção que abrange o Núcleo Histórico de Nevogilde, como também lhe foi retirada a proteção que poderia advir de ser uma Área de Interesse Urbanístico e Arquitetónico, assim definida na Carta de Património do Plano Diretor Municipal.
Mais recentemente fomos surpreendidos com a infeliz colocação de uma grande tarja, que abrange toda a fachada da casa, publicitando uma operação imobiliária aprovada, com imagens do que se pretende construir no local.
Apurámos então que se trata do processo de licenciamento NUP/62009/2024/CMP denominado Nomad Eden que, conforme se constata nas referidas imagens divulgadas, retira e faz desaparecer o lanço de escadas com alpendre tão característico desta tipologia de casas.
É que neste casa a escada exterior com o respetivo patamar coberto são o mais importante para a caracterização da casa.
Segundo apurámos, há alguns anos atrás, numa outra campanha de obras, foi-lhe retirado o reboco caiado da fachada, tendo a casa ficado com um aspeto demasiado rústico. No entanto uma operação de reposição do revestimento original até seria o mais fácil de fazer.
Em nosso entender, nada justifica a remoção desta escada de pedra de granito, que certamente por lapso, terá escapado na apreciação do projeto. Pela largura do passeio não poderá ser, uma vez que o mesmo poderá facilmente ser aumentado, face às amplas dimensões do Largo onde se insere.
Assim, só por via de uma intervenção de V.ª Ex.ª se poderá reparar esta situação e assegurar a salvaguarda efetiva das características da frente desta significativa casa do Núcleo Histórico de Nevogilde, o que a acontecer será também um ato de justiça e de reconhecimento por este Lugar tão especial.
Na expectativa, apresentamos os melhores cumprimentos,
Alexandre Gamelas, João Batista, Francisco Sousa Rio, Francisco Queiroz, Nuno Gomes de Oliveira, Virgílio Marques
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