sexta-feira, 26 de maio de 2017

Casa de Guilhermina Suggia e outros edifícios - Pedido à CM Porto para Classificação de Interesse Municipal


Exmo. Senhor
Presidente da Câmara Municipal do Porto
Dr. Rui Moreira


C.c. AM Porto, DRC-N e media

Somos a solicitar à Câmara Municipal do Porto, na pessoa de V. Exa., que desencadeie os procedimentos necessários à classificação de Interesse Municipal aos imóveis que abaixo se indicam, sendo que, entre eles, e a um mês exacto de mais um aniversário sobre o nascimento da ilustre violoncelista Guilhermina Suggia, nascida, como é do conhecimento de V. Exa., no Porto em 27 de Junho de 1885, é de sobremaneira justo, pensamos, que se verifique em primeiro lugar a classificação da casa do nº 665 Rua da Alegria, onde residiu entre 1927-1950, até à sua morte.

Igualmente solicitamos que a CM Porto proceda à classificação de um punhado de outros edifícios emblemáticos da cidade do Porto, referentes ao século XX, a saber:

. Garagem Passos Manuel, Rua Passos Manuel, edifício déco-modernista, de 1930, da autoria do arq. Mário Abreu;
. Confeitaria Serrana, Rua do Loureiro, nº 52, pastelaria centenária, no local da Ourivesaria Cunha (1880-1914), profusamente decorada com motivos Arte Nova, com esculturas de Oliveira Ferreira e pinturas de Acácio Lino;
. Armazéns Cunhas, Praça de Gomes Teixeira, nº 14, edifício déco-modernista, de 1933-36, praticamente genuíno e com projecto dos arq. Manuel Marques, Amoroso Lopes e Coelho Freitas.

Na expectativa, apresentamos os melhores cumprimentos


Alexandre Gamelas, David Afonso, Francisco Queiroz, Nuno Quental, Virgílio Marques

terça-feira, 9 de maio de 2017

A grande questão é: como se permitiram demolir um quarteirão inteiro?


O Bonjardim City Block, localizado junto à avenida dos Aliados, vai acolher mais de 100 casas, um hotel e lojas nos pisos térreos
Foto: LUCÍLIA MONTEIRO

«Negócio Fundos nacionais e estrangeiros na corrida pelo Quarteirão Bonjardim, junto ao mercado do Bolhão. Estão previstas 100 casas

inco investidores (três estrangeiros e dois nacionais) estão a disputar aquele que é considerado atualmente o maior projeto imobiliário da Baixa do Porto, o Quarteirão Bonjardim, junto ao mercado do Bolhão e da Avenida dos Aliados — um extenso lote de terreno com 28.500 m2 de áreas residenciais, comércio e hotelaria (e ainda um parque de estacionamento subterrâneo com 560 lugares). Só casas serão cerca de uma centena.

O prazo para a entrega das candidaturas terminou na semana passada, e prevê-se agora um “período de alguns meses” para a escolha do candidato final, segundo apurou o Expresso junto de fontes do mercado.

Desenvolvido por dois fundos imobiliários geridos pela Interfundos — AF Portfólio Imobiliário e Imopromoção —, do Millennium BCP, este projeto, batizado entretanto de Bonjardim City Block, resultou de uma parceria público-privada entre a Porto Vivo — Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU) e a sociedade gestora do Millennium.

O Expresso contactou a Interfundos e a JLL, a consultora que está a comercializar em exclusivo o projeto, para obter mais informações, mas até ao fecho desta edição não obtivemos resposta. Apurámos, porém, junto de fontes do mercado, que o valor base do projeto foi fixado em €27 milhões, “cerca de metade do valor que seria obtido em Lisboa, numa situação similar, com uma localização estratégica, uma vez que a Avenida dos Aliados está para o Porto como a Avenida da Liberdade está para Lisboa”, referiu uma das fontes.

Constituído por 23 edifícios (alguns de pequena dimensão), o projeto Bonjardim está localizado no Quarteirão D. João I, onde fica a sede do Millennium BCP, delimitado pelas ruas Sá da Bandeira, Formosa e Bonjardim e pela Travessa do Bonjardim. [...]»

In Expresso (7.5.2017)

sábado, 6 de maio de 2017

No 1º Dia Nacional do Azulejo - o que falta fazer na cidade





(foto de Francisco Queiroz)


Comemora-se hoje, e pela primeira vez de modo oficial, o Dia Nacional do Azulejo.
Embora refractário a comemorações de tudo e mais alguma coisa, entendo que, em certos momentos, e para certos temas, haver um dia comemorativo pode ser de grande utilidade. E o facto de ser um dia nacional, ratificado pelo próprio Parlamento nacional, diz muito do quanto o azulejo é um fenómeno português - com muita influência internacional, é certo - e do quanto é um património do país reconhecido como tal por quem não é português.

Embora se suponha que o uso do azulejo em Portugal tenha, pelo menos quinhentos anos, o actual estado da arte leva a crer que, no Porto, o fabrico de azulejos não perfaça mais de duzentos anos. Significa isto que, no Porto, os poucos exemplos de azulejaria anteriores ao período da Monarquia Constitucional foram produzidos bem longe da cidade, sobretudo em Lisboa.

Porém, ao contrário do que é crença comum, o azulejo - ou melhor, um certo tipo de aplicação em azulejo - teve no Porto um período tão florescente que se supõe mesmo ter sido esta a cidade preponderante, no contexto internacional. Refiro-me à azulejaria de fachada e aos artefactos complementares, como vasos, estátuas alegóricas, balaústres e outras peças decorativas em cerâmica para platibandas.

Em diversos cais do Rio Douro, especialmente do lado de Vila Nova de Gaia, foram embarcadas quantidades elevadíssimas de azulejo e dos mencionados artefactos complementares, destinados a ornamentar edifícios em paragens longínquas. No Brasil, apesar de décadas de destruição, podem ainda ser encontrados desde o Maranhão até ao Rio Grande do Sul. Podem ser vistos também nos arquipélagos dos Açores e Madeira e um pouco por todo o país, sobretudo onde havia porto, estação ferroviária, ou boas estradas. Azulejos e ornatos complementares de fachada feitos no Porto podem ser vistos igualmente em edifícios de Lisboa, embora os azulejos semelhantes produzidos então em Lisboa raramente possam ser encontrados nos edifícios do Porto - o que diz muito da preponderância do Porto na produção de azulejos durante a época áurea da azulejaria de fachada, ou seja, entre cerca de 1850 e 1900.


(foto de Francisco Queiroz)


Foi, aliás, no Porto - ou melhor, em Vila Nova de Gaia e com depósito / loja no Porto - que existiu a principal fábrica de azulejos para decoração de edifícios: a das Devesas, cujo complexo fabril está há mais de trinta anos embrulhado num processo de classificação que não tem evitado a ruína, os furtos, a pilhagem, o vandalismo.

Há cerca de dez anos atrás, o prospecto de um congresso sobre azulejaria realizado em Lisboa convidava os interessados a propor comunicações sobre as várias épocas do azulejo, mas implicitamente desencorajava propostas sobre azulejaria de fachada, ao afirmar, no preâmbulo, que esse fora um período de decadência. Ironicamente, no que ao azulejo diz respeito, hoje é já maior a produção científica sobre essa época do que sobre as demais. Em grande medida, foram os não portugueses - e, no caso do Porto, os cada vez mais numerosos visitantes - que, com o seu interesse, com as suas perguntas, com a sua máquina fotográfica apontada, fizeram dissipar velhos preconceitos dos portugueses sobre a azulejaria de fachada.

Contudo, nestes últimos anos, muito se perdeu. O Porto como cidade de azulejo; e o azulejo do Porto como marca própria (visto ser diferente do azulejo de Lisboa, por exemplo); são potenciais por explorar e, sobretudo, por defender.

Neste Dia Nacional do Azulejo, deixo, pois, a pergunta: de que está à espera a Câmara do Porto (e a Câmara de Gaia...) para estabelecer um regulamento próprio que defenda eficazmente a azulejaria histórica da cidade, especialmente a azulejaria de fachada? E já nem pergunto onde está o inventário da azulejaria de fachada da cidade, e muito menos onde está a monitorização do seu estado nos diversos edifícios.

Até no Município da Lagoa, nos Açores - onde o número de fachadas azulejadas não vai além da dúzia, mas onde azulejaria é claramente identitária, por ter sido o primeiro local no arquipélago a produzir azulejaria, graças a conhecimentos técnicos (e humanos) oriundos precisamente de Vila Nova de Gaia - já se levou a vereação um regulamento do género. Por outro lado, em Ovar, cidade que se auto-intitula "museu do azulejo", e onde a esmagadora maioria dos azulejos que possui foi adquirida no Porto, a prática de anos na salvaguarda e valorização do Património azulejar pode servir também de exemplo.
De que está à espera o Porto? E em Gaia, quantas mais fábricas históricas de cerâmica têm de cair, quantos mais painéis de azulejaria únicos têm de desaparecer para se fazer alguma coisa de concreto?




Reabilitação do antigo matadouro industrial - protesto e chamada de atenção à CMP

Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal do Porto Dr. Rui Moreira CC. AMP e media Tomamos conhecimento de imagens virtuais dand...